segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Ex-presidente da escola A Grande Família se prepara para servir só a igreja evangélica

O principal motivo, conta o ex-sambista, foi a falta de tempo para a família e os problemas de saúde que ele e outros familiares sofreram recentemente

Uma das pessoas mais identificadas do Carnaval amazonense, particularmente com a escola de samba A Grande Família, trocou, desde agosto do ano passado, o ritmo frenético do samba pelos louvores e cânticos cristãos. Luiz Gilberto Ferreira Lima, 58, está gradativamente deixando o mundo do samba para se dedicar somente ao Evangelho.

O principal motivo, conta o ex-sambista, foi a falta de tempo para a família e as atribulações e problemas de saúde que ele e outros familiares, viviam sofrendo nos últimos anos. 

Ele só não deixou a agremiação por completo devido parte dos familiares integrarem a diretoria da vermelho e branco do bairro São José: um dos filhos, Luiz Gilberto, é o presidente da A Grande Família, enquanto que outro, Luiz Eduardo, é mestre de bateria. A esposa, Ermozinda Andrade Lima, foi durante 12 anos porta-bandeira e hoje é cozinheira (ele também é pai do filho adotivo Luiz Fabiano). 

Outra rotina

Diferente dos anos anteriores, quando sua rotina era viver quase 100% entre a quadra e o barracão de alegorias da escola de samba, hoje ele vai raramente à sede da agremiação e mais para dar suporte ao filho presidente.

Na vermelha e branca ele esteve presente em todos os seis títulos de grupo Especial, e neste ano mais uma vez sua opinião foi de “peso” para a escola definir, como enredo, o didático tema “Paz no Trânsito” (reeditando o samba homônimo de 2006 quando foi campeã).

Atualmente, são as terças e domingos os principal focos dele, nos cultos da Assembléia de Deus, Área 71, localizada na Cidade Nova, Zona Norte. “Eu ainda estou de corpo na A Grande Família porque preciso ajudar meu filho. Mas espiritualmente a minha cabeça e o meu coração estão na igreja. Foram 30 anos sem ter tempo como deveria para a minha família”, comenta ele. A promessa dos familiares é de que todos deixem a escola após o fim do mandato de Luizinho, como é conhecido o filho de Luiz Gilberto.

“O Luizinho me fez uma promessa. Depois do desfile da escola, no dia 6, virá a eleição em maio e ele não vai concorrer à reeleição. Vai cuidar da vida dele. Tomara que ele me siga. Ninguém arrasta ninguém. É Deus que toca no seu coração e há de tocar no coração dos meus filhos. Um dia hei de vê-los aqui comigo na Igreja. Eu acredito muito que meus filhos vão me seguir. Há cinco meses ninguém imaginava que eu iria entrar para a igreja evangélica”, pontua o ex-sambista.

Visão

Luiz Gilberto conta que, do dia 6 para 7 de agosto do ano passado, teve uma visão que foi fundamental para a mudança de estilo de vida. Ele garante que, ao andar pela avenida Grande Circular, uma mata se fechou ao seu redor e, em meio à confusão de não encontrar um caminho, foi ajudado por um motorista dirigindo um antigo modelo Corcel 2.

“E ele perguntou se eu estava perdido e eu disse: ‘Estou’. E ele falou: ‘Então vamos encontrar esse caminho juntos’. E eu entrei no carro e as árvores começaram a aparecer e ao longe eu vi uma cidadezinha. E eu despertei”, lembra o evangélico, que a partir dali decidiu mudar totalmente de vida.

Ele crê fervorosamente que a recuperação de sua mãe, Leonília Ferreira Lima, hoje com 89 anos, que estava desenganada pela medicina tradicional, é fruto da sua entrada para a igreja.

“Hoje minha mãe anda, sem inflamações, come de tudo, é sã, também está na igreja. Já viajou para o Ceará e até foi à praia. Ela é um milagre vivo de que Deus existe após todo esse sofrimento grande pelo qual passamos”, relata Luiz Gilberto, dizendo estar tranquilo quanto à transição do samba para a igreja. “O que eu quero é a Igreja de Deus e conviver para a minha família, coisa que eu não vivia há mais de 30 anos”, ressalta.

Cânticos

Luiz Gilberto faz planos de entoar, brevemente, um louvor em plena quadra da A Grande Família. Mas não para sambistas, e sim para evangélicos, afirma ele. Cânticos como “Raridade”, do artista gospel Anderson Freire, um dos que Luiz Gilberto já começa a cantar nas pregações.

Ele faz questão de citar, emocionado, um trecho dele para a equipe de A CRÍTICA: “Você é um espelho que reflete a imagem do Senhor / Não chore se o mundo ainda não notou. Já é o bastante Deus reconhecer o seu valor / Você é precioso, mais raro que o ouro puro de ofir. Se você desistiu, Deus não vai desistir / Ele está aqui pra te levantar. Se o mundo te fizer cair....”.

Altamente identificado com o folclore amazonense, de onde fez parte de grupos como na Praça 14 de Janeiro, Luiz Gilberto lembra que ícones do boi-bumbá como David Assayag, levantador de toadas do Caprichoso, há alguns meses também se converteram ao Evangelho. “Olha aonde Deus foi usar o David”, ressalta o ex-sambista.

Já evangélico, recentemente, a pedido do filho presidente, Gilberto apresentou um dos eventos de feijoada da escola de samba, mas fez questão de explicar ao povo sambista presente na quadra da A Grande Família que continuava fiel à sua igreja, que não havia se desvirtuado e que as pessoas deveriam se preocupar mais com as suas vidas pois a dele estava resolvida. “Deus me guiou, meu parceiro”, conta ele, que ainda guarda, consigo, o vocabulário do samba, que ficará mais raro a cada dia.

“Muitos dizem pra mim: Glória a Deus, Gilberto, que bom. Feliz por você ter encontrado um caminho de paz e sossego na sua vida. Já os irônicos dizem: ‘Isso é fogo de rabo de palha. Quando passar o primeiro balde de cerveja ele toma uma latinha’. E eu digo: já passaram mais de 100 e a tentação não me bate. Quando alguém me oferece uma cerveja eu só faço rir. Se quiserem me pagar um refrigerante eu aceito”, brinca ele, sorridente, uma das suas marcas registradas.




Fonte: A Crítica
---------------