quinta-feira, 30 de maio de 2013

Tratamento para dependentes químicos com religião divide especialistas

Ninguém sabe ao certo quantas comunidades terapêuticas existem no país e qual o tipo de trabalho que cada uma delas executa.

O número mais aproximado vem de um censo do Ministério da Justiça e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em que as próprias entidades se cadastram. Estão listadas 1.830 comunidades- 407 em SP.

Estima-se que a maioria seja mantida por alguma entidade religiosa e tenha a "espiritualização" como foco -em algumas, rezar é o único tratamento oferecido.

Por isso, alguns especialistas colocam em dúvida a eficácia do tratamento. "Não há evidências científicas de que funciona", afirma o professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Luís Fernando Tófoli.

Na Conquista, a presença nos encontros espirituais, que ocorrem três vezes na semana, é obrigatória -mesmo que o paciente prefira ficar sentado, sem participar.

Antes de todas as refeições reza-se e, às vezes, há uma "chamada oral" de salmos -o nome de um dos pacientes é chamado e pede-se para que ele recite um.

Também não é permitido tocar músicas "do mundo" (que não sejam religiosas).

A questão gera polêmica entre os especialistas.

Para Elisaldo Carlini, membro do comitê de peritos sobre drogas e álcool da OMS (Organização Mundial da Saúde), ela pode ajudar.

"O grande diferencial das comunidades terapêuticas é, justamente, a ênfase colocada na espiritualidade. O objetivo é que por meio da religião o indivíduo encontre a si próprio e encontre forças para superar o vício."

Para Tófoli, a religião é aceitável quando o tratamento não leva verba pública.

"Quando a gente envolve o dinheiro público no tratamento é complicado ter um modelo onde o indivíduo tem que celebrar rituais".

Ronaldo Laranjeira, coordenador do Programa Recomeço, diz que comunidades que fizerem o convenio com o Estado não poderão obrigar que os internos participem de atividades do tipo.

"Não vamos financiar conversão religiosa", diz. Ele reconhece, entretanto, que a maioria delas estabelece atividades espirituais.

"Elas praticam a reabilitação: parar de usar drogas e restabelecer valores básicos de vida. Por isso elas podem transmitir valores universais de espiritualidade".



Fonte: Folha
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