terça-feira, 3 de julho de 2012

Pastores paraguaios pedem oração

Com pouco mais de 7% de evangélicos, e grande maioria católica, o Paraguai inicia a semana após o chamado "golpe de estado parlamentar" que derrubou seu agora ex-presidente da República, o também ex-bispo católico Fernando Lugo. Na sexta, uma associação de pastores divulgou à imprensa um comunicado pedindo a todas as igrejas, paraguaias e de outros países do mundo, orações contínuas pela "paz, reconciliação, fraternidade e unidade de todos os paraguaios".

A "Asociación de Pastores Evangélicos del Paraguay" (APEP) é presidida pelo pastor Santiago Maldonado e organiza jornadas de orações pelo país. Está pregando a pacificação entre os poderes da República. Também cita 1 Timóteo 2.1-5 para defender a responsabilidade dos crentes em Deus orarem permanentemente pela "divina direção, proteção e bênção" para o seu país. O leitor Carlos Portillo comentou uma matéria sobre a postura da Associação no jornal paraguaio La Nacion: "Desejo apoiar as ações dos pastores do Paraguai já que a igreja evangélica, assim como as demais confissões, devem permanecer neutras ao conflito, tornando-se assim em fator aglutinante pela condição da fé. Aqui em Honduras diante da experiência de golpe que também passamos, as igrejas se inclinaram em favor daqueles que realizaram o golpe, o que foi um péssimo antecedente. As redes pastorais devem estar à margem e pedir a imediata reconciliação dos poderes, a fim de evitar enfrentamentos entre irmãos. Que nosso Senhor lhes dê paz para encontrar a saída para o problema".

O Conselho Latino Americano de Igrejas (CLAI) enviou carta aos parlamentares paraguaios lamentando a destituição do Presidente Fernando Lugo: "Queremos reconhecer a soberania das autoridades paraguaias em instaurar um processo político contra seu presidente, porém não podemos reconhecer a legitimidade do impeachment de Fernando Lugo. A rapidez com que tudo foi feito (24 horas) "é uma clara evidência de falta de respeito aos direitos fundamentais de defesa e aos trâmites democráticos, que implicam em investigação, acusação justificada em evidências, defesa do acusado, informação e transparência junto à população sobre o andamento do processo. O que começou com um recurso democrático, terminou por caracterizar-se como golpe de estado".

Já a Igreja Católica paraguaia, com quem Lugo não mantinha bom relacionamento há tempos (e a quem desafiou e contrariou, ao candidatar-se para a Presidência), parece ter escolhido seu lado na questão e considera Lugo "página virada". O principal representante dos religiosos do país, monsenhor Claudio Giménez, discorda que tenha havido um golpe de Estado.

Sobre os motivos da queda, dito artigo de Clovis Rossi, publicado na Folha de São Paulo de 25/6, sobre o isolamento de Lugo:

"No caso do Paraguai, dá-se que 1% dos proprietários rurais detêm 77% das terras, ficando apenas 1% para os 40% de camponeses donos de menos de cinco hectares. Enquanto 350 mil famílias sem terra se tornaram "carperas" (vivem em "carpas", barracas de lona em espanhol), 351 proprietários são donos de 9,7 milhões de hectares.

"Alguma surpresa que haja conflitos pela terra, um deles exatamente o que acabou sendo o pretexto para a deposição de Lugo, com a morte de 17 pessoas, policiais e sem-terra, na semana passada?

"Se Lugo alguma culpa tem nessa história, não é a de ter ordenado ou provocado o incidente, mas o de não ter conseguido fazer a reforma agrária que prometeu ao assumir em 2008. Pretendia retomar para o Estado um total de 8 milhões de hectares, para depois dividi-los entre as famílias (300 mil então) que pediam a democratização do acesso à terra."



Fonte: Agência Soma
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