segunda-feira, 30 de abril de 2012

Revista de moda feminina inspirada em doutrinas do Alcorão faz sucesso na Turquia

Recém-lançada, Âlâ já tem tiragem de 20 mil exemplares, apesar de "perseguição" do Estado secular

A revista Âlâ (beleza, em turco) seria apenas mais uma publicação do segmento de moda e estilo feminino não fosse um pequeno grande detalhe: atendendo a orientações do islã, as modelos das capas escondem seus cabelos, braços e pernas. Com tiragem mensal de 20 mil exemplares em papel de alta qualidade, a revista recém-lançada na Turquia tem como publico-alvo as praticantes das doutrinas pregadas no Alcorão, que obedecem rigorosamente o uso do véu hijab para cobrir seus corpos e, até hoje, não possuíam um veículo que atendesse às suas demandas femininas da forma como exigem suas crenças religiosas.

Já no projeto de marketing para o lançamento de Âlâ, a bandeira do uso hijab foi levantada. A publicação traz mensagens de efeito como “o véu é belo” e “meu caminho, minha escolha, minha verdade, meu direito”, e aos poucos ganha mais leitoras para seus ensaios com modelos, reportagens sobre turismo e entrevistas com personagens representativas do cotidiano nacional. O projeto editorial ainda reserva espaço para artigos de interpretação dos dogmas muçulmanos.

Desde a fundação da república por Mustafá Kemal Ataturk, a Turquia é um país laico onde o uso de véu chega a ser até mesmo proibido em determinados ambientes. Mas, em entrevista ao Diario ABC, a redatora chefe da Âlâ, Hulya Aslan, lembrou que o uso do véu em comunidades muçulmanas não apenas persiste, como também quer se moldar às novas possibilidades estéticas de uma sociedade “globalizada e de consumo”: “Existem muitas muçulmanas que não querem viver de preto ou marrom”.

A própria Hulya representa esse grupo de mulheres turcas que querem ter o direito de usar véus e, em outras palavras, seguir sua religião de forma livre e elegante. Com apenas 25 anos, abandou seu curso de graduação por se recusar a seguir a legislação turca e retirar seu véu dentro da universidade.

Ironicamente, a Turquia é governada pelo primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, islâmico cuja esposa nunca apareceu em público sem o véu hijab sobre os cabelos. Membro do moderado Partido da Justiça e do Desenvolvimento, ele agora tenta reformar a legislação nacional para que a laicidade do país seja mantida sem que formas de expressão religiosa sejam condenadas e “vigiadas” por militares e juízes.




Fonte: Opera Mundi
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