quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Encontros e despedidas

Todo ano é assim, quando chega o momento de ir embora não dá para segurar as lágrimas, o nó na garganta, a tristeza. Abraços apertados e demorados, sentidos. Frases curtas, voz baixa, embargada, e rostos banhados. Quando fui abraçar e beijar a minha avó, como sempre eu me despeço dela por último, meu rosto molhado tocou o rosto molhado dela. Encontro de lágrimas, encontro de dores, uma saudade antecipada, um sofrimento que se antevê. A dor da despedida.

Uma semana antes o clima era outro. Os abraços eram apertados, mas festivos. Em vez de voz embargada, todos falando alto, exaltados, entusiasmados. Risos, gargalhadas. Era o clima do reencontro, da chegada, o desaguar da saudade em presença.

Melhor seria se não houvesse despedidas. Talvez não ir visitar os queridos, para não ter que se despedir deles. Mas para me privar da dor da partida, me privaria também da alegria do encontro. Se quisesse evitar a dor do abraço de despedida, também não teria o festivo abraço da chegada. Prefiro enfrentar a aguda tristeza do beijo banhado de lágrimas do que jamais sentir a alegria do abraço carregado de afeto e saudade represada do reencontro.

Já se disse que viver é aprender a se despedir. A vida é feita de ciclos e também de despedidas. A criança que tem de abandonar as coisas pueris, porque está ficando grandinha. O adolescente, que ainda sem ser adulto, tem que deixar as coisas de criança. O adulto que tem assumir todas as responsabilidades da vida e se desprender das coisas de adolescente. Os pais que vêem os filhos indo embora depois de adultos. Os velhos, que têm que aprender a se despedir de tudo e sabem que também terão que se despedir da vida. Despedidas. Em cada uma delas, os sentimentos de que falei no início estão presentes.

A única coisa que me consola em despedidas é a esperança. Quando me despeço da minha mulher com um beijo, no início do dia, o que me alegra é a esperança de encontrá-la mais tarde para celebrarmos, de novo, a presença um do outro. Todo ano, quando choro abraçado com minha avó, consolo meu coração com a esperança do reencontro. Quando um ciclo da vida é encerrado, há a possibilidade de novos horizontes, de um novo ciclo.

Por outro lado só houve despedida porque antes houve um encontro. Para aprender a me despedir também preciso aprender a celebrar intensamente os momentos. Só chora a despedida quem celebra o encontro. Se a despedida é indolor, também a presença é irrelevante. E se a despedida é temperada com esperança, haverá dor, mas não desespero.


Fonte: Márcio Rosa da Silva em seu blog
----------------------------------------