terça-feira, 13 de setembro de 2011

Causa da confusão mental dos idosos

Sempre que dou aula de Clínica Médica a estudantes do quarto ano de Medicina, lanço a pergunta:

"Quais as causas que mais fazem o vovô ou a vovó terem confusão mental?"

Alguns arriscam: "Tumor na cabeça". Eu digo:"Não". Outros apostam: "Mal de Alzheimer". respondo, novamente: "Não".

A cada negativa a turma espanta-se. E fica ainda mais boquiaberta quando enumero os três responsáveis mais comuns: diabetes descontrolado; infecção urinária e a família passou um dia inteiro no shopping, enquanto os idosos ficaram em casa.

Parece brincadeira, mas não é.

Constantemente vovô e vovó, sem sentir sede, deixam de tomar líquidos.

Quando falta gente em casa para lembrá-los, desidratam-se com rapidez.

A desidratação tende a ser grave e afeta todo o organismo. Pode causar confusão mental abrupta, queda de pressão arterial,aumento dos batimentos cardíacos ("batedeira"), angina (dor no peito), e até morte.

Insisto: não é brincadeira.

Ao nascermos, 90% do nosso corpo é constituído de água. Na adolescência, isso cai para 70%. Na fase adulta, para 60%. Na terceira idade, que começa aos 60 anos, temos pouco mais de 50% de água. Isso faz parte do processo natural de envelhecimento.

Portanto, de saída, os idosos têm menor reserva hídrica. Mas há outro complicador: mesmo desidratados, eles não sentem vontade de tomar água, pois os seus mecanismos de equilíbrio interno não funcionam muito bem.

Explico: nós temos sensores de água em várias partes do organismo. São eles que verificam a adequação do nível. Quando ele cai, aciona-se automaticamente um "alarme". Pouca água significa menor quantidade sangue, de oxigênio e de sais minerais em nossas artérias e veias.

Por isso, o corpo "pede" água. A informação é passada ao cérebro, a gente sente sede e sai em busca de líquidos.

Nos idosos, porém, esses mecanismos são menos eficientes. A detecção de falta de água corporal e a percepção da sede ficam prejudicadas. Alguns, ainda, devido a certas doenças, como a dolorosa artrose, evitam movimentar-se até para ir tomar água.

Conclusão: idosos desidratam-sefacilmente não apenas porque possuem reserva hídrica menor, mas também porque percebem menos a falta de água em seu corpo. Além disso, para a desidratação ser grave, eles não precisam de grandes perdas, como diarréias, vômitos ou exposição intensa ao sol. Basta o dia estar quente ou a umidade do ar baixar muito - como tem sido comum nos últimos meses.

Nessas situações, perde-se mais água pela respiração e pelo suor. Se não houver reposição adequada, é desidratação na certa. Mesmo que o idoso seja saudável, fica prejudicado o desempenho das reações químicas e funções de todo o seu organismo.

Por isso, aqui vão dois alertas:

O primeiro é para vovós e vovôs: tornem voluntário e rotineiro o hábito de beber líquidos.

Bebam toda vez que houver uma oportunidade. Por líquido entenda-se água, sucos, chás, água-de-coco, leite, sopa, gelatina e frutas ricas em água, como melão, melancia, abacaxi, laranja e tangerina, também funcionam. O importante é, a cada duas horas, botar algum líquido para dentro. Lembrem-se disso!

Meu segundo alerta é para os familiares: ofereçam constantemente líquidos aos idosos.

Lembrem-lhes de que isso é vital. Ao mesmo tempo, fiquem atentos.

Ao perceberem que estão rejeitando líquidos e, de um dia para ooutro, ficam confusos, irritadiços, fora do ar, ATENÇÃO! pois é quase certo que esses sintomas sejam decorrentes de desidratação.

Líquido neles e os encaminhem rápido para um atendimento médico".

Para que nossa saúde seja boa, tomar de um a dois litros de água mineral todos os dias é o ideal.

E nos dias mais quentes dois litros é o recomendado.

Para as vovós e vovôzinhos, um pouquinho menos ou na quantidade que seus organismos exigem.

Para todos os que podem, inclusive nós: Atividades aquáticas, como nadar, exercícios na água, banhos de mar, rio, cachoeiras ou mesmo um simples passeio a beira-mar ou próximo a lagoas, riachos ou rios, já nos revigora e muda a energia.

Os banhos diários devem ser feitos com calma, deixando a água que cai, percorrer nosso corpo todo enquanto nos desligamos do mundo lá fora!

Água é vida!


Fonte: Arnaldo Lichtenstein, Médico do Hospital das Clinicas de São Paulo. Professor colaborador do departamento de clinica médica da Faculdade de Medicina da USP.
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