quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Após reclamações de pais, escola suspende momento de oração

Antes do início das aulas, as crianças participam de um momento de agradecimento a Deus

A direção do Jardim de Infância da 404 Norte decidiu acolher as orientações da Secretaria de Educação e interromper o momento de agradecimento a Deus que, até a semana passada, era celebrado diariamente na escola. A reclamação de alguns pais, que não concordam com a prática, motivou a suspensão das orações e, agora, o corpo docente tenta negociar com os responsáveis uma saída para o imbróglio. Está marcada para hoje uma reunião entre os pais e a Regional de Ensino do Plano Piloto na tentativa de chegar a um consenso.

Possivelmente, a oração deve permanecer suspensa porque, de acordo com o secretário adjunto de Educação, Erasmo Fortes, a atitude fere a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). A norma determina que unidades da rede pública não podem realizar nenhuma atividade religiosa. “A escola deve se abster neste momento da oração. Amanhã (hoje), a secretaria vai expor as diretrizes e negociar um acordo com os pais”, disse.

A diretora da Regional de Ensino do Plano Piloto, Roberta Callaça, diz que durante a reunião de hoje deve ouvir a versão dos pais. Os gestores da escola — coordenação e professores — foram ouvidos na semana passada e argumentaram que não existe reza, mas manifestações espontâneas dos estudantes após o momento de acolhida no início das aulas. “O aluno pode expor sua religião em frente aos colegas, o que não pode ocorrer é um direcionamento por parte da escola”, explica Roberta Callaça.

No Jardim de Infância 404 Norte, estudam 180 crianças entre 3 e 5 anos. Segundo a Secretaria de Educação, na instituição, há 180 pais divididos entre o ateísmo e outras religiões, como o budismo. Desses, oito são contra a atividade de fim religioso.

A diretora da escola, Rosimara Albuquerque, afirmou que não era necessária tanta polêmica porque o momento de agradecimento a Deus é voluntário. Segundo ela, a criança pode ou não participar e a maioria dos pais se manifestou favorável à manutenção do ato religioso por meio de um abaixo-assinado. Cento e dez assinaturas foram colhidas. “O que eu questiono é até que ponto a laicidade vai beneficiar uma minoria contra a maioria que deseja a oração para os seus filhos”, questiona a diretora da escola.

O servidor público Flávio Henrique Rocha, 32 anos, tem um filho de 5 anos no colégio e concorda com a diretora. Ele e a esposa encabeçaram a lista de assinaturas para a manutenção da oração. “Queríamos que o momento continuasse, mas depende mais da regional de ensino do que da nossa vontade. Amanhã (hoje), será dia de ouvir as diversas opiniões”, comentou.

A radialista Heliane Batista Carvalho, 40 anos, também estará presente na reunião e pretende expressar a opinião de que a escola deve transmitir valores, mas não os religiosos. Segundo ela, o filho de 4 anos chega em casa cantando músicas com o nome de Jesus. Para ela, a religião deve ser ensinada em casa. “Como fica a cabeça da criança? Uma orientação em casa, outra na escola?”, questiona.


Fonte: Correio Braziliense
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