sexta-feira, 20 de maio de 2011

Boxeador Manny Pacquiao vira símbolo da igreja contra anticoncepcionais

A Igreja Católica filipina encontrou no campeão mundial de boxe Manny Pacquiao um símbolo valioso em sua dura luta contra o Governo para frear a aprovação de uma lei que visa facilitar o acesso aos contraceptivos à toda população. Desde sua cadeira de congressista estreada há menos de um ano, Pacquiao se mostrou nos debates parlamentares desta semana um dos opositores mais fervorosos desta iniciativa apoiada pelo presidente do país, Benigno Aquino.

Com a mesma agressividade que investe nos ringues e o fez conquistar há duas semanas um novo cinturão mundial de peso meio médio em Las Vegas contra o americano Sugar Shane Mosley, Pacquiao, o lutador ataca o projeto, porque, segundo ele, "vai contra a lei de Deus". "Deus disse 'crescei e multiplicai-vos', para justamente não termos apenas um ou dois filhos", declarou esta semana à imprensa após se reunir com dirigentes da Igreja filipina.

O presidente da Conferência Episcopal filipina, Monsenhor Nereo Odchimar, comemorou o apoio de Pacquiao, já que "promove a cultura da vida pois o povo o escuta". 'Pacman', pai de quatro filhos com sua esposa Jinkee e envolvido nos últimos anos em várias confusões com mulheres, defendeu que a abstinência sexual lembra o boxe porque exige disciplina.

Os promotores da normativa, que pretende facilitar o acesso e a informação dos diferentes métodos de planejamento familiar para todos os filipinos, defendem que é necessária para aliviar a miséria. Um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas este mês adverte que o forte crescimento econômico das Filipinas (7,6 % em 2010) não favorecerá os pobres até que haja uma política de controle da natalidade no país, cujo índice de fecundidade é de 3,19 crianças por mulher.

No entanto, para Pacquiao este argumento não é válido porque "a culpa é da corrupção, já que o dinheiro que teria que ajudar os pobres acaba nos bolsos dos governantes de famílias ricas". O pugilista também usou suas origens humildes para comover seus milhares de seguidores ao afirmar que ele nunca teria nascido se seus pais, que eram pobres e desempregados, tivessem usado anticoncepcionais. Não demonstrou, entretando, a mesma habilidade com a qual escapa dos punhos de seus rivais diante da incisiva pergunta de um jornalista que lembrou que sua esposa declarou recentemente que toma pílula anticoncepcional.

O congressista pela província de Sarangani se esquivou ao responder que "embora a lei não tenha sido aprovada, muita gente já usa preservativos e pílulas, portanto não é preciso nenhuma norma" e afirmou que sua esposa parou de usar contraceptivos. O indiscutível ídolo nacional por seus oito títulos de campeão mundial de boxe viveu durante anos alheio à crítica, tratado como um herói pela imprensa e os políticos, mas sua exagerada tomada de partido em um assunto tão controverso está lhe custando os primeiros ataques.

A senadora Miriam Defensor Santiago, uma das promotoras de iniciativa parlamentar, acusou o boxeador de cair no fundamentalismo religioso por suas declarações, chamou-o de "hipócrita" e pediu para não utilizar a popularidade conquistada nos ringues. "Seria muito errado usar sua celebridade para influenciar no que não deixa de ser um grande debate de economia e política", disse.

Nos últimos meses, a polêmica sobre o planejamento familiar aumentou nas Filipinas devido à luta da Igreja Católica, que ameaçou excomungar Aquino, importante defensor da medida. O presidente reiterou que não recuará perante as ameaças e que não espera um confronto com a Igreja. "Aprendi na escola católica que o último juiz é nossa consciência. Não busco nenhuma briga contra a Igreja", disse nesta quarta-feira à imprensa.

Vários líderes católicos também ameaçaram o Governo com a promoção de uma campanha contra o pagamento de impostos caso a lei seja finalmente aprovada, pois consideram que os anticoncepcionais são uma forma de aborto, ilegal nas Filipinas. Em um país onde 80% dos 94 milhões de habitantes são católicos, os bispos contribuíram para que nenhuma iniciativa sobre anticoncepcionais seja aprovada desde as primeiras propostas nos anos 90.


Fonte: EFE
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