quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ex braço direito de Estevam Hernandes, Zé Bruno renega o título de Bispo e afirma: “Hoje a liderança evangélica é exaltada por títulos”

Ele foi pastor, passou a ser bispo e agora volta a ser pastor. José Bruno, que também é deputado estadual (DEM), fez parte da Igreja Batista, Igreja Renascer em Cristo e hoje é líder da Igreja A Casa da Rocha.

Em fase de mudança ministerial e adaptações, o pastor concedeu entrevista exclusiva ao Guia-me, explicando o motivo de algumas dessas mudanças e desse novo caminho.

Confira a entrevista:

Sua vida ministerial passou e está passando por algumas mudanças e uma delas é que o senhor não é mais chamado de bispo e sim de pastor. Por quê?

Tem vários aspectos, a gente pensou muito a respeito disso. O primeiro aspecto importante é que eu não acredito que o título que uma pessoa usa esteja ligado à unção que ela tem; essa é uma visão do antigo testamento. No antigo testamento você vê Pedro se autodenominando presbítero e era apóstolo; a gente vê Paulo defendendo seu apostolado e não o seu título de apóstolo, defendendo aquilo que ele tinha o direito de desempenhar no ministério. Eu entendo também que muitas vezes os títulos são apenas uma ostentação humana. Jesus nunca se auto-intitulou nada, aliás, o único título que podemos dizer que Jesus se deu foi o de pastor: ‘Eu sou o Bom Pastor’, porque, fora isso, ‘Eu sou a Água da Vida, a Luz do Mundo’.

Acho que o meio evangélico, hoje, está correndo para o lado da valorização do ser humano.

Vejo que no velho testamento, com a figura dos patriarcas, era um período que não havia a Palavra, não havia Cristo, não havia o Espírito Santo e o homem não tinha contato com Deus, e a palavra do profeta, do rei e do homem de Deus era Deus. Entendo que Moisés era Deus no meio do povo, porque o povo não tinha a Deus. Com a vinda de Cristo essa imagem se desfez, porque não é mais um homem que representa a Deus, e hoje, a Igreja não é mais semelhante ao que era a nação de Israel, hoje a Igreja é um corpo, Paulo diz em Coríntios que nós somos membros e membros uns dos outros. Mesmo que eu seja um bispo, um pastor ou um apóstolo, o que seja, eu sou um membro do corpo porque agora o líder e o cabeça é Cristo e ninguém pode tomar o lugar de cabeça, de mentor, de idealizador e de doutrinador da Igreja a não ser o próprio Filho de Deus. Qualquer cargo dentro da Igreja não tem conotação de cargo em uma empresa, mas, sim, de dom.

Acredito que a Igreja precisa voltar a ser corpo. Isso não é uma desvalorização da liderança, porque ela continua sendo importante, o dom é fundamental. Percebo hoje que a liderança evangélica é exaltada por títulos e dentro de uma figura neo-testamentária, esses títulos não se constituem em um dom do corpo.

Tenho andado muito pensativo e até triste sobre isso, porque o cabeça é Cristo e nenhum outro.

Eu não sou contra títulos, queria deixar isso bem claro, mas, por outro lado, percebo que existe uma corrida desenfreada para saber quem é o maior. Havia o ministério de pastores, aí veio o dos bispos, a unção dos apóstolos, agora tem a unção do patriarca e acho que a próxima será a unção de Tera – que era o pai de Abraão, quer dizer, o pai do patriarca, daqui a pouco tem o pai de Tera, até chegar em Deus; e eu pergunto: ‘pra quê?’. É apenas um reconhecimento e uma honraria carnal e humana. Hoje, até pelo fato de um querer ser maior que o outro, eu também quero voltar.

O primeiro fato eu acho que é um ajuste daquilo que é o corpo, o segundo é uma visão desfocada do antigo para o novo testamento, e o terceiro é uma questão pessoal porque eu acho que o meio evangélico está correndo para o lado errado, e eu quero, como Cristo, ser chamado de pastor, afinal, o ministério neotestamentário, seja ele qual for, está ligado a uma única vertente, o pastoreamento da ovelha, então estamos usando a nomenclatura pastoral que eu acho ser a mais justa para esse cenário, que eu julgo um pouco doente.

A decisão da nova nomenclatura foi uma das primeiras decisões nessa mudança ministerial?

Não. Não foi das primeiras. Na verdade, eu posso dizer com toda certeza que eu não tenho certeza. Me perguntam assim ‘como vai ser a Igreja A Casa da Rocha?’, e eu tenho uma resposta: ‘eu tenho absoluta certeza de como ela não vai ser. Como ela vai ser, Deus está construindo no nosso coração’. O que ela não vai ser, eu tenho plena convicção. Quando começamos o trabalho nessa igreja nós continuávamos sendo chamados de bispo e as pessoas me conhecem como bispo Zé Bruno, se bem que um dia eu fui pastor Zé Bruno também. Se acostumaram a me chamar de bispo, agora vão se acostumar a me chamar de pastor, se bem que na igreja eu estou incentivando as pessoas a me chamarem de Zé e de Zé Bruno.

Algumas coisas parecem que são besteiras, mas não são. Eu não chamo o palco de altar porque o palco não é um altar e não há referência na Bíblia de que o sacerdote subia no altar para ministrar ao povo, então não há porque dizermos que pregamos em cima do altar. O altar é o lugar de colocar o sacrifício; eu sei que a Bíblia diz em Romanos que nós devemos apresentar nosso corpo como sacrifício, mas o altar não é mais de pedras e nem físico, ele está dentro de nós, somos colocados em um altar espiritual e não físico; e quando você diz que o palco é o altar, parece dizer que é um lugar mais santo do que o resto da igreja, trazendo uma figura do tempo que não existe mais, Jesus destruiu o templo.

Algumas pessoas dizem ‘mas como eu vou te chamar de Zé e não de bispo e pastor’ e eu digo ‘você chama Jesus de Jesus e não usa título, porque não pode me chamar pelo nome?’. Isso é uma hipocrisia, é uma religiosidade que só serve para colocar homens em cima de pedestais.

Uma coisa que nós não fazemos desde o primeiro dia: não colocamos cadeiras para fica em cima do dito “altar”. Primeiro porque é um palco e porque nós sentamos junto com as pessoas ali embaixo. Quando vou pregar subo e prego e quando acabo, desço e fico com o povo. Pode parecer que é uma coisa boba e ridícula, mas não é. Acho que a Igreja tem que entender que ela tem um pastor e esse pastorado é um dom dentro do mesmo corpo em que ela está. Eu não sou membro da igreja, sou membro teu porque você é o outro membro. Alguém é o tórax, alguém é o coração, alguém é o braço, alguém é o pulmão, então o corpo somos todos nós juntos. Você pode dizer que o coração é mais importante que o cotovelo e ele pode ser, mas o coração nunca será maior do que ele tem que ser, aliás, se o coração for maior é um problema porque os cardiologistas dizem que se o coração incha a pessoa pode morrer; e nem o cotovelo, que é importantíssimo para a movimentação do seu braço, pode ter o tamanho de um joelho senão tem algum defeito. E o mais importante vai ser sempre Cristo, que é o cabeça. Ministrei outro dia dizendo que a Igreja está vivendo uma morte cerebral, pois matou o cabeça, e os membros(as) são pessoas estão vivendo por aparelhos; o corpo está sendo estimulado por impulsos que vêm de aparelhos. Pessoas preocupadas se vão ter carro, casa, dinheiro, correndo atrás de milagres que resolvam seus problemas, sem se preocupar com o caráter que Deus quer construir.

Quando comecei a igreja não tivemos esse pacote de mudanças ou pacote de medidas, não, mas o tempo está passando e nós estamos amadurecendo algumas idéias e entendendo que esse, talvez, seja o caminho mais correto. Algumas pessoas estão dizendo que eu estou negando a minha unção, voltando para trás. Eu não estou negando unção nenhuma e o fato das pessoas me chamarem pelo meu nome não é uma desonra.

O senhor comentou de algumas críticas. Recebeu alguma que o deixou abalado de alguma forma?

Não, nada me abala. Já passei por tanta coisa que aprendi a não ser mais abalado. Nunca me falaram pessoalmente a não ser coisas do tipo ‘mas você não pensava assim e agora pensa’. É verdade, eu não pensava assim e agora penso, algum problema? ‘Ah, mas quando você se converteu, não era’. É, quando me converti era assim. Me converti na Igreja Batista, fiquei lá por 16 anos, depois fiquei 18 anos e meio na Igreja Renascer e hoje estou ponderando muita coisas doutrinárias para mim. Não posso julgar a Igreja Batista, não quero julgar a Renascer e nem Igreja alguma, mas eu, como ministro, tenho experiência de uma igreja tradicional, uma neo pentecostal e estou tentando achar um caminho que eu creio que seja bíblico e equilibrado. Não estou na posição de juiz, não quero fazer esse papel e acho que ninguém deve, porque a Igreja é de Cristo e o cabeça é Cristo. Como líder de um povo, eu vou buscar aquilo que seja o correto.

As duas diferentes experiências que o senhor viveu serviram justamente para que hoje pudesse fazer esse balanço e escolher qual caminho seguir?

Acho que sim. Na verdade foram três, porque na época em que eu estava na Igreja Batista eu freqüentei duas de modelos diferentes, uma que era ligada à Convenção Batista Brasileira e uma que tinha um trabalho missionário e uma abertura um pouco diferente. Todas elas eu tenho que guardar no coração e em todas eu tive experiências positivas e negativas. Fora isso, a experiência de vida também colaborou. Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, então toda experiência é válida. Eu não posso negar ou invalidar nenhuma delas, porque todas são importantes para a nossa formação; apenas entender que existe um outro momento e um outro caminho.

A experiência que tem vivido com a igreja está sendo ainda uma fase de aprendizagem?

Acho que sempre. Talvez nós estejamos em uma fase maior e mais importante de aprendizado. Sei que saiu em alguns sites quando eu preguei sobre as sete igrejas e preguei contra a prosperidade, porque eu sempre preguei e falei da prosperidade e agora eu sou contra, e isso eu ouvi também como uma crítica, e não sei quantas pessoas realmente ouviram o que foi pregado, mas eu não posso dizer que alguém é contra Deus se prosperar, porque bem-aventurança é bíblica e vem de Deus, mas o que eu sou veementemente contra é a busca desenfreada por prosperidade, deixando em segundo plano a vida com Deus. Em primeiro lugar, seguir ao Senhor, obedecer à ordem de Deus e ser fiel ao Reino, as outras coisas vão ser acrescentadas. O que eu preciso não é ter mais carros e mais casas, eu preciso vencer o pecado e ser uma pessoa transformada.

A Casa da Rocha ainda não tem um lugar fixo. Como funcionam os horários e os locais de cultos?

A igreja é uma só, mas nós temos extensões. No domingo nós nos reunimos todos juntos, alugamos o auditório da força sindical, que, aliás, tem sido uma bênção de Deus e uma porta aberta, e fazemos um culto às 10h e às 18h30. Às quartas-feiras nós fazemos reuniões em lugares diferentes, temos na Liberdade, no Tatuapé, Vila Galvão, Vila Matilde, Osasco, Mauá, e são outros pastores como o Jorge e o Rubão que dirigem grupos pequenos, uns de 40, outros de 80 pessoas, e são cultos informais em que as pessoas perguntam, nós respondemos, debatemos e crescemos na Palavra. Temos algumas reuniões esporádicas, dos casais, dos jovens que às vezes acontece aos sábados. Ainda estamos dispersos por não ter um local fixo, mas Deus sabe e no momento certo acontece.

E os ministérios da igreja?

As crianças e os adolescentes têm o culto separado deles durante do culto, então é necessário que tenha. Temos a diaconia que faz o serviço do culto em todos os aspectos. E os jovens que também se reúnem. Nós fazemos aconselhamento e temos um grupo que cuida. Temos ação social porque temos gente com necessidade, então a gente anuncia, as pessoas doam e a gente ajuda. Não é que não vamos ter uma organização ministerial, mas eu estou entendendo e Deus tem nos falado muito isso, que o fato de não termos encontrado um lugar adequado até agora, faz parte de uma direção de Deus. Se a gente começasse com um lugar fixo e falássemos ‘olha, tem essa sala, faz esse ministério e tal’, talvez todo mundo fosse fazer o que sempre fez, proveniente de onde veio, com uma maneira e uma visão de se fazer. Acho que Deus tem nos mantido dessa maneira para que tenhamos tempo de discutir muito e para quando tivermos o ministério estabelecido ele tenha sido bem refletido. Temos buscado muito material, livros de editoras diferentes e tem sido um tempo muito frutífero para nós.

Então o fato de não ter um lugar fixo é visto pelo senhor como uma coisa boa?

Bom não é, porque não temos lugar para ficar, mas eu tenho entendido que Deus deseja assim, porque nós vimos dezenas de lugares que poderíamos ter locado, mas não sentimos que era aquele lugar. Deus está no controle e, se Ele está no controle eu não posso reclamar nem da luta.

A Casa da Rocha tem a chamada escola bíblica ou escola dominical?

Ainda não temos, mas é pelo fato de não termos um lugar definido para fazer. Ela é um sonho que eu tenho há muitos anos, ter uma escola em que as pessoas aprendam a Palavra sem pressa e sem formatura. Não estou preocupado em me formar, tenho muita coisa para aprender, a Bíblia é muito grande. Tenho descoberto muita coisa boa no nosso mercado cristão de livros e estudos.

O senhor falou que debate bastante com a Igreja sobre diversos assuntos doutrinários. Essas práticas doutrinárias da Casa da Rocha já estão definidas?

Sim. Estamos aprendendo muito, mas eu creio que sim. Em relação à cura interior, libertação, batalha espiritual, intercessão, acho que temos clareado muito a nossa ideia. Acho que a Igreja no Brasil passou por um momento de muita descoberta e toda descoberta vem com muitas distorções, o que eu não julgo totalmente negativas, mas tem um momento em que você tem que pensar à Luz da Palavra, porque ela é nossa base de fé e nossa regra de vida.

Como surgiu o nome ‘A Casa da Rocha’?

Ah, o nome foi um Brainstorming. Fizemos um Brainstorming com o grupo logo no primeiro mês porque queríamos ter um nome. Fizemos uma lista com uns 50/60 nomes. Meu irmão, Jorge, que teve a ideia de fazer a rocha, e eu queria que chamasse ‘A Casa’, e depois de muitos nomes, voltamos ao começo da lista, voltamos à rocha e voltamos à casa. Eu queria ‘A Casa’, porque tem que ser algum lugar que eu queira ir e tenha vontade de estar, para ser uma coisa de casa mesmo. Aí começamos a falar do que Jesus dizia sobre edificar a casa sobre a rocha, então ficou ‘A Casa da Rocha’.

No site da igreja tem um link com o título: ‘Veja aqui os dias, horários e os caminhos para chegar em Casa’. A Intenção do nome é justamente criar esse clima familiar?

Sim, isso pegou. Na nossa comunicação a gente coloca ‘notícias da Casa’. A gente faz acampamento e coloca ‘A Casa no campo’, se é na litoral vira ‘A Casa da praia’, e até pelo fato de sermos pastores próximos das pessoas e de desmistificarmos a liderança. Não é retirar a liderança, porque o dom de governo é importantíssimo, é saber ser líder-servidor que, aliás, é o que fala muito hoje, e Jesus era assim.

Fonte: Guiame
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