quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Lembra Dele? Ex-zagueiro Gilmar vira pastor e é empresário da esposa e cantora evangélica Aline Barros

Na contramão dos ex-jogadores que sofrem psicológica e financeiramente com a aposentadoria, Gilmar dos Santos aproveitou o afastamento dos gramados para apostar na sua veia empresarial. Como a maioria dos outroras companheiros, confirma que não via a hora de oferecer mais atenção à família. Aliado à esposa e ao filho, ele passou a se dedicar ainda mais à igreja evangélica Comunidade Zona Sul, no Rio de Janeiro. Não só virou pastor auxiliar, depois de oito anos de estudo, como despertou-se para o filão da música gospel.

Em vez de bolas, camisas e chuteiras, o ex-zagueiro de São Paulo, Palmeiras, Flamengo e Botafogo agora coleciona CDs, DVDs e muitos prêmios como produtor musical. Tudo na sombra da esposa - e também pastora da mesma igreja -, a cantora Aline Barros. Em 17 anos de carreira, ela lançou 20 álbuns - cinco em espanhol e quatro voltados para o público infantil. Vendeu cerca de 5 milhões de cópias e arrebatou certificações de Disco de Ouro, Platina Duplo, Platina Triplo e Diamante. Foi também a primeira brasileira do segmento evangélico a ganhar o Grammy Latino.
- A Aline (Barros) é um fenômeno. Dentro do segmento gospel, ela é disparada a artista de maior sucesso. Já o meu negócio com a música é nos bastidores. Me sinto realizado em trabalhar por trás das câmeras. Se antes eu era o famoso da família, agora a gente torce para sair na foto (risos) - brincou o empresário, de 37 anos, que viajou na última semana para o Nordeste a fim de cofirmar 17 shows da esposa naquele região para abril deste ano.

Patrimônio: duas empresas e uma carreta milionária

Diferentemente da maioria dos jogadores, que tendem a ter uma queda na qualidade de vida após dar adeus ao futebol, Gilmar dos Santos comemora os resultados de suas três empresas. Ele é dono da produtora Genesis e do AB3D estúdio - de computação gráfica hiper-realista.

Além disso, o ex-defensor se orgulha de ser proprietário do primeiro palco móvel da América Latina. Trata-se de uma carreta de 14m de comprimento com 8,5m de altura avaliada em US$ 1,5 milhão (cerca de R$ 3,5 milhões). Em quatro horas, a geringonça se transforma num palco capaz de suportar um peso de 25 toneladas, entre cantores e instrumentos. - Não posso me queixar. A minha vida está tão corrida como na época em que eu jogava futebol. Atualmente, tenho 32 funcionários e muitos planos no segmento evangélico - afirmou o co-autor do romance "Muito mais que um sonho", sobre casamento, família e religião, em parceria com a mulher Aline Barros.

Infância sofrida em Itapecerica da Serra (SP)

Por outro lado, a infância de Gilmar não foi nem um pouco glamourosa. Ele chegou a catar papelão nas ruas e vender produtos de limpeza para ajudar no orçamento familiar. Filho de militar, o menino de Itapecerica da Serra custou a convencer o pai que seu futuro estava nos gramados. Na visão dos progenitores, futebol era coisa de vagabundo.

Gil, como é carinhosamente chamado pelos mais íntimos, teve inúmeras bolas de plástico furadas pela mãe. Ainda assim acreditou que o seu “primeiro e principal brinquedo” um dia iria proporcionar uma vida mais digna à família "dos Santos".

A persistência foi herdada do amigo de futebol de várzea Cafu, que passou por 13 peneiras em diversos clubes até ser aprovado no São Paulo. Embora não tenha sido testado tantas vezes como o capitão do penta, Gilmar conta que mal tinha o que comer no café-da-manhã. E o caminho até o Itaquaquecetuba - time que começou a carreira ao lado do ex-lateral-direito - era uma verdadeira via crúcis (assista ao vídeo do time de Gilmar e Cia. na final do Mundial de Clubes de 1993, entre São Paulo e Milan).

- Tinha dias que eu e o Cafu dividíamos um pão com banana. E aquilo era como se fosse um caviar. Para ir aos treinos, pegávamos um ônibus até o centro. Depois o metrô. E, para completar, um trem. Era preciso vender amendoins no trajeto e fazer roda de samba nos vagões para pagar a passagem - contou o ex-zagueiro, de 37 anos.

Conversão à igreja evangélica e deboche dos amigos

Concomitantemente à fama, Gilmar sentiu necessidade de entrar para a igreja evangélica. Em meio aos intermináveis churrascos regados a marias-chuteiras, ele decidiu, aos 21 anos, aderir à Associação Atletas de Cristo - que no início da década de 90 contava com nomes como Silas, Muller, Mazinho, Bebeto, Jorginho e Taffarel. Ganhou pontos com o pastor Ronaldo, pai da então pretendente Aline Barros. No entanto, virou alvo de chacota dos companheiros de profissão.

- Eles faziam todos os tipos de piada. "Agora não gosta mais de mulher. Não vê mais aquele tipo de revista. Vai dar dinheiro para pastor. Cadê a Bíblia?" Se eu sentava para almoçar e não orava, era motivo de encarnação. Alguns colegas simulavam conversa com mulheres e fingiam que iam me passar o telefone. Antes de eu atender, diziam que eu não era mais chegado naquilo. Sofri nas concentrações do São Paulo, mas consegui driblar a marcação do meu sogro e casar com a minha atual esposa - recordou Gilmar, que afirma ter virado evangélico em momento conturbado de sua vida. Logo após a morte do pai, por infarto, aos 49 anos, em 92.

'Paizão' Telê Santana

Mal sabia Gilmar que estava prestes a ganhar outro grande amigo. Apesar do jeito turrão, o então técnico Telê Santana o tinha como filho. Não só se sentia à vontade para dar broncas como ajuda o pupilo a administrar as finanças. No entanto, até despertar para os conselhos do treinador, Gilmar sofreu para entrar nos eixos (assista ao vídeo ao lado do primeiro título mundial do São Paulo, em 1992).

- Certa vez, ele mandou o São Paulo me emprestar ao São Bento, de Sorocaba, porque eu tinha me machucado jogando pelada. Na época, achei a atitude do Telê (Santana) exagerada. Porém, acabei sendo o artilheiro deste time no Estadual subsequente. E ele pediu para eu voltar ao Morumbi. O Telê via a gente como um filho, não só como atleta. Era muito perfeccionista e com ele não tinha migué. Se o jogador estivesse 99,9%, não jogava. Só ia a campo quem estava 100% condicionado física e tecnicamente - garantiu o pai de Nicolas, de 6 anos.

Fonte: GloboEsporte.com
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