segunda-feira, 21 de junho de 2010

Descontentamento motiva novas crenças

O professor de Ciências da Religião da Furb, em Blumenau, e de Estudos da Bíblia do Instituto Teológico de Santa Catarina, Luiz Dietrich, revela que a facilidade que as pessoas têm para montar uma igreja e o descontentamento dos fiéis com as religiões mais antigas e tradicionais, como a católica, a batista ou a luterana, facilitam a captação de fiéis para a formação de um novo templo.

Para ele, uma das justificativas para o surgimento de tantos templos é a falta de capacidade das religiões tradicionais de se aproximar dos fiéis e de seus dramas. Conforme Dietrich, um padre católico não consegue ser tão próximo quando precisa atender uma comunidade de 30 mil pessoas. Então, outras religiões usam a propagação da palavra de Deus diretamente nas famílias com necessidades e problemas pessoais e familiares, como desemprego, vícios e falta de dinheiro.
“A Igreja Católica se manteve com a pregação institucional do sacramento e da doutrina. Algumas doutrinas evangélicas pentecostais agiram com um cristianismo adaptado ao mundo neoliberal. Nessa linha de pregação, predomina o individualismo e o sucesso pelo dinheiro”, opina.

Ele questiona, porém, a forma como essas doutrinas são apresentadas. Sem fazer julgamento de certo ou errado, aponta a falta do olhar crítico dos fiéis em relação aos templos que pregam apenas a solução pelo sucesso material e financeiro. “A própria Bíblia não é isenta dessa relação. No Antigo Testamento existem as correntes religiosas que valorizam o poder, a política e o dinheiro. Elas eram caracterizadas pelos reis, que também diziam agir em nome de Deus. Já os profetas pregavam a teologia de uma sociedade mais justa e social. Não dá para condenar as igrejas pelas suas escolhas de doutrinas, mas a falta de uma visão mais crítica de como usar essas teologias conflitantes. Todo mundo busca um Deus que melhor se adapta ao seu interesse. Mas é preciso que ver as consequências dessas ações na sociedade”, analisa.

Pastora da paróquia da Paz, a mais antiga da Igreja Evangélica Luterana de Joinville, Eli Elisia Deifeld, 31, avalia a diversidade de religiões com duas opiniões distintas. Uma, positiva, porque a diversidade faz as pessoas terem alternativas de buscar templos para valorizar o lado espiritual. A outra, negativa – que preocupa a pastora –, pela forma como algumas doutrinas pregam a palavra de Deus. “Acho que algumas tendências religiosas se aproveitam das carências e fraquezas espirituais dos fiéis para enriquecimento da igreja e não da sociedade. Não precisa dar dinheiro para conseguir um milagre. Isso não é bíblico. Todas as igrejas precisam se manter, mas não usando um sistema de troca por salvação. As pessoas devem fazer suas ofertas com alegria, porque Deus já proporciona a elas o dom maior, que é a vida”, defende.

A pastora também avalia que a dificuldade das igrejas tradicionais em se aproximarem da população abriu margem para o surgimento de outras igrejas que atendessem os anseios de fiéis que ficaram órfãos de um aconselhamento religioso mais direcionado às suas angústias. “Estamos com uma proposta de trabalho de se voltar mais à comunidade. Trabalhamos com jovens e idosos. O Evangelho precisa estar voltado às necessidades de sobrevivência do ser humano, para ele sentir que tem a presença e a proteção de Deus, mas não devem seguir a teologia da prosperidade. Cristo não pregou a fé pelo enriquecimento”, reforça Eli.

Fonte: A Notícia
---------------