terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Deixei de ser evangélico. Decidi ser cristão.


Por Rodnei Cypriano


Pra começo de conversa, não são a mesma coisa. Embora se assemelhem, definitivamente não podem ser associadas.

Como afirmo isso? Simples. Diga-me, de pronto, quem são os evangélicos hoje?

O que caracteriza ser “evangélico”? Faça uma lista indicando um nome de expressão nacional ou de destaque em sua cidade, que se considera evangélico, em cada um dos setores que eu lhe indicar: política, meio empresarial, educação, saúde, órgão do governo. Basta.

Ótimo. Agora me diga, dos que você listou, em qual ou quais desses setores você pode dizer com todas as palavras que “põe a mão no fogo” pelo(s) indicado(s)?
Da minha lista, nenhum, pelo menos dos que lembrei.

É claro que existe muita gente bem-intencionada, que vive o que prega, que almeja a propagação do evangelho. Não posso deixar de pensar nestas pessoas.
Infelizmente conheço muito mais gente que usa do termo “evangélico” para se esconder, para a autopromoção, contrariando o que, na verdade, significa ser evangélico.

Cansei de ser rotulado como tais. São os que mais enganam, os que mais fazem aumentar a lista de devedores no SPC, os que faltam com a honra da palavra, os que difamam, subjugam pessoas, envolvem-se em escândalos e espreitam a derrota, inclusive, dos próprios “irmãos da igreja”, os que mais se divorciam, os que mais sabem apontar o indicador de condenação, os que preservam os dogmas e matam o amor.

Cansei-me dos chavões e palavras feitas, das retóricas eclesiásticas desnudas. De nada adianta falar do amor de Deus enquanto pessoas, do lado de fora dos templos, estão sem entender o barulho que se faz lá dentro.

Enquanto vejo pessoas simples dividindo o pouco que têm, com seus semelhantes (sem ter nenhuma denominação por trás), gente que diz ter todo o conhecimento do Criador, todos os métodos de felicidade, de triunfo, de sucesso, pouco faz, tendo, às mãos, muito mais do que precisa.

Ser evangélico é bonito, é moderno, é diferente, é místico, é favorável.

Por muitos anos convivi numa igreja pentecostal que agia como se todo o mundo estava perdido. Somente aqueles que pertenciam àquela denominação tinham o direito à salvação. Que hipocrisia.

Reivindicar pra si o direito único de conduzir um punhado de pessoas aos céus. Aliás, quem tem esse poder, a não ser o Messias?

Por esses motivos deixei de ser evangélico e decidi ser cristão.

Decidi viver bem com Deus, sem, no entanto, fazer propósitos desorientados, viver na alienação dos temores, forçado à obediência ao líder em submissão (confundida com intimidação). Decidi ser mais humano, mais emocional, menos racional, mais sensível, menos religioso. Decidi aceitar os dois lados da moeda, as verdades; não criticar, não condenar, não se queixar.

Quero ser cheio de compaixão, quero exprimir amor, quero entender o sofrimento alheio, antes de indicar a proveniência. Quero, simplesmente, ser cristão.

Fonte: Esquina da Fé
--------